Presa dentro de si mesma, atrás de barras de ferro enormes. Por uma pequena janelinha ainda entrava a luz do sol, mas só lá pelas seis e meia, pouco antes de ele se pôr. De fato era feliz naquele horário, mas queria poder ficar virada para o outro lado e vê-lo nascer.
Eu ia dizer princesa pra ter a certeza de um final feliz, mas combina mais com prisioneira.
Não foi o primeiro corajoso a tentar libertá-la, mas esperava que esse fosse o último e a levasse de lá no futuro, um futuro próximo.
Sentava-se perto da janelinha e a fazia acreditar que sairia dali em breve, mas aí o sol se punha e a noite nunca era tão doce quanto o dia.
Entrava na cela o carcereiro, vestido de preto, mas sem mascara nenhuma, dizendo "lembre-se desse rosto, desse nome" e não esqueceria. As mãos frias em suas coxas sempre quentes, as pernas cruzadas, tremiam. Era medo mesmo, mas fazia-se parecer segura, eis o lado bom da imaginação fértil. Palavras nunca ditas, sempre gritadas, demonstravam mais nojo do que medo, ainda que fosse ao contrário. Eis aqui também o lado bom de ser prisioneira e não princesa, as pernas o empurravam para longe, o sangue no canto da boca do carcereiro lhe dava mais prazer que suas mãos frias tocando sua pele. Ia dormir com as palavras duras "vais pagar por isso", mas não sabia o que podia ser pior que tudo aquilo.
Amanhecia com a voz do seu suposto salvador, e por um segundo esquecia a noite anterior, mas as mãos geladas pelo frio da manha encostavam em sua pele e o mesmo medo tomava seu corpo. Se sentia culpada por compará-los, por não conseguir acreditar que seria diferente, ainda que no fundo soubesse que sim, mas ali estava, sentada, esperando ser salva, presa dentro de si mesma, atrás de barras de ferro enormes.
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