Era uma manhã de um sábado de verão, porém um dia frio, dentro de seu coração.
Ainda deitada na cama, em sua cabeça passavam mil desejos: Seios maiores, pernas mais finas, olhos mais arredondados, lábios mais grossos... E entre cada desejo, vinham os medos. Sabia que uma hora teria que levantar-se, caminhar até o banheiro e olhar no espelho, mas só de pensar nas olheiras e no aparente sono em sua expressão facial, seu corpo estremecia.
Enfim tomou coragem, levantou. Antes mesmo de comer ou trocar de roupa, foi até o banheiro, se olhou no espelho, desmanchou-se
Sentou-se no chão do banheiro e encostada na parede e analisou suas pernas. Eram grossas demais, não se pareciam com pernas de mulher. Seu pé era feio, sua coxa muito grande. Sentia-se gorda, seus braços pesavam.
O telefone tocou e em passos lentos andou em direção ao mesmo, enquanto secava as lágrimas. Com a voz trêmula atendeu. Era um homem e, pela voz, devia ter uns quarenta anos e, pela idade, ela já sabia. Provavelmente um homem casado, cuja esposa já não lhe satisfazia completamente. Bem, ela não queria sair daquele quarto, mas era seu trabalho, então que escolha tinha?
Botou uma roupa que não cobria quase nada de seu corpo imperfeito, encheu o rosto de maquiagem, botou um salto preto e saiu de casa, esperando poder voltar o mais rápido possível.
Chegou ao seu destino após vinte minutos, aproximadamente. Era uma casa branca, com um portão grande e um interfone. Ela apertou o pequeno botão azul e veio até a porta, como ela imaginava, um homem que aparentava quarenta anos. Embriagado, se apoiava nas paredes enquanto se dirigia ao portão onde ela se encontrava e, com dificuldade, abriu-o.
Recebeu-a com mil elogios e ela, com lágrimas nos olhos, agradecia, sabendo que não se passavam de palavras bonitas de um bêbado casado querendo satisfazer seus desejos com uma mulher mais jovem.
Ele dizia o tempo todo como ela era linda e de fato era, mas ela, por sua vez, só conseguia enxergar os defeitos.
No final da tarde saiu de lá e, em passos tétricos desceu a rua sem amor nenhum. Imaginava como seria o amor, como seria em primeiro lugar se amar, mas olhava sua mão e sua pele lívida afundava todas as chances de amor próprio.
Nesse dia não foi para casa. Parou em uma pontezinha no caminho e ficou olhando, lá de cima, o rio. Sempre tão bonito, acompanhado de pedras enormes. Suas lágrimas caiam e se espalhavam quando batiam nas pedras. Virou-se para trás e ficou por horas observando passarem mulheres bonitas, felizes e foi ai que percebeu que jamais poderia ser bonita, pois lhe faltava felicidade. No chegar da noite observou as estrelas, sem pensar duas vezes pulou. O caminho até o rio era frio e solitário, nada diferente de sua vida. Foi abraçada pelas pedras e banhada pelo rio, eram companhias fiéis, não se importavam com seus defeitos, apenas a acolhiam. Do batom vermelho em sua boca agora escorria o sangue, a mistura perfeita de todos os vermelhos, o batom vermelho mais bonito que já existiu.
Não foi um suicídio. De fato ela matou, declarou ali o fim da tristeza, da amargura, da vaidade.
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