segunda-feira, 5 de novembro de 2012

falar de amor pra você

Não que não me faltasse nada, o sorriso e mais que isso o riso, o brilho dos olhos ao me ouvir cantar e o orgulho que nunca precisou ser dito. O perfume exagerado que eu podia sentir do meu quarto na hora de dormir, o barulho dos passos lentos, porque não havia outro jeito, que me faziam levantar e ir rápido até a cozinha, só pra ter certeza de que não era nada mais que a vontade de comer de madrugada, e me sentava na mesa sem fome nenhuma e comia pra dizer que algum motivo tinha para eu estar ali.
O jeito todo que levo no coração, a vontade de realizar meus sonhos só por serem meus, a segurança que tinha em me mostrar o mundo, me segurando num abraço que não me deixava ter medo e descobrimos então o nosso mundo inteiro em um único país, que não hesitou em me deixar sentir o mesmo amor que ele sentia por aquele lugar que ainda hoje não me deixa esquecer quem ele foi. Primeiro Portugal, depois o resto do mundo inteiro que descobrirei sozinha, sem contar a despedida triste disfarçada de alegria, que não me permitiu olhar no olho e dizer adeus, mas hoje só me resta um "obrigada" por não ter deixado transparecer que aquele era o fim, o nosso fim.
Foi cada música que cantei e desafinei de propósito pra ouvir que eu não podia desafinar sentimento, mas hoje tenho certeza de que meu sentimento não segue nenhum tom e a minha oitava de dó raramente é outro dó, porque desafino, pra sentir teu sorriso, aquele sorriso de quando tu percebia que eu não era a melhor cantora do mundo, mas que as músicas sempre foram pra ti.
E ainda que já não soubesse meu nome, eu insistia em te dizer todo o amor que nunca deixei de sentir. E ai vi, como quem olha uma obra de arte, teu corpo envolvido pelas flores mais bonitas que eu já vi, os olhares tristes de quem, com cuidado, te cobria com aquela tampa marrom, e te deixava no escuro, e me dava medo que não pudesses mais respirar, que não tivesse falado tudo o que tinha pra falar, e com medo que nunca eu tivesse outra oportunidade de dizer tudo o que me restava dizer, e agora só sinto e espero que sintas também.
E a falta que me faz o cheiro que tinha aquela casa, me entristece precisar dormir lá, e não consigo dormir a noite inteira, acordo de madrugada sem ouvir passo algum, mas me sento na mesa da cozinha, sem fome nenhuma eu como, pra mentir pra mim mesma que é esse o motivo para eu estar ali e de que não estou sozinha, porque ninguém nunca está. Depois durmo tranquila, sabendo que não era nada mais que a tua vontade de comer de madrugada e que teus passos lentos hoje voam livres por aí, enquanto eu me despeço de ti, um pouquinho mais a cada dia, até que deixes essa vida, a minha vida.

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