quarta-feira, 25 de abril de 2012

vestibulandos

Era a pequena menina dos cachinhos dourados, que escutava metal achando que era só rock normal, que ouvia guns como pop, body count por causa dos frequentes barulhos de ambulância no meio das músicas e achava aquilo incrível. Mas ai cresceu, ou nem tanto, mas ficou mais velha e passou a entender o que tudo aquilo queria dizer. Ouvia Tom Jobim pelo ar romântico que deixava águas de março, Cazuza por causa da piscina cheia de ratos, lembrava seu vizinho, exagerada, bem, o tempo não para. Era metaleira sem saber, era o rock, o samba, o pop, o rap, mesmo sem querer ser. E desse jeito, meio sem querer, que se apaixonou, não por uma música, era a música como total, era o jeito que todos aqueles cantores se expressavam e arrastavam consigo multidões, era como os músicos tinham a sociedade na palma da mão, era o poder que a música tinha de transformar o que quisesse, no que quisesse. Não há nada sem música, é o barulho do mar, o canto de um passarinho, os pés pisando a calçada, os carros passando, em uma melodia quase que trágica da cidade, e ai as pessoas botam seus fones, fugindo da melodia que elas fazem, se refugiando na melodia feita por alguém. Foi pela vez que subiu pela primeira vez em um palco, foi pela primeira vez que parou de cantar pra ouvir as pessoas na platéia cantando também, foi pela primeira vez que ensinou um menino do morro a fazer um sol maior, um lá menor, foi pela primeira vez que mudou a vida de alguém por causa da música, foi pelo dia que descobriu que sua música podia sim salvar o mundo, que o mundo inteiro está esperando ser salvo pela música. Quando descobriu que por ela podia dizer tudo o que pensava, que podia mostrar que ninguém é obrigado a nada, que um a um podemos mudar tudo, fazer como quisermos o mundo. E graças a John Lennon, Axl Rose, Tim Maia, Renato Russo, graças ao Dinho, Rita Lee, Mick Jagger, entre infinitos outros, que ela se apaixonou, que ela decidiu que é isso que ela quer pra vida toda, que não poderia viver de outro jeito. Dá risada de quem diz "estudou a vida inteira pra fazer música?" "é isso que tu vai fazer com a tua vida?", apenas porque sim, é o que ela quer, é o que ela vai fazer, só por priorizar a felicidade, só por achar que uma nota de cem reais não vale nada perto do sorriso de uma criança que aprendeu a sorrir, que aprendeu a amar. Só porque o dinheiro dá carro, casa, roupa e comida, mas a música salva as pessoas. Só porque se pergunta de que adianta ser deputado se a música tirou bem mais crianças do crime que a prefeitura. Isso é porque a música acolhe, abraça, ensina. Sim, é isso que ela quer pra ela, viver para sempre sem o peso de ter escolhido algo que não foi feito pra ela. Sim, é isso que ela quer pra ela, viver eternamente apaixonada pelo que faz, pelo que é.

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