
Deitada com um homem de ressaca na cama redonda, que girava. As luzes apagadinhas, uma azul, no banheiro era vermelha.
O nariz era muito pontudo e a boca pequena demais. Os olhos eram muito grandes e as marcas na testa quando os arregalava não a satisfaziam.
A saia curta jogada ao lado da cama e a blusa transparente na mão esquerda. Na direita um cigarro, na mesinha um copo.
Amanhecia em lágrimas, não queria se levantar. Suas pernas se moviam vagarosamente até o espelho, o choro voltava. Era baixa, estava gorda, os olhos inchados, o sorriso já não parecia tão retinho assim. Voltava para a cama, deitava e, abraçada no travesseiro, lamentava.
Estava sozinha, era sozinha. Talvez porque tivesse deixado tudo para trás em busca da beleza, talvez porque preferisse ficar deitada chorando por seus defeitos, ou até por gostar de seu trabalho noturno. Não precisava se levantar e, na maioria das vezes, os homens chegavam lá tão bebados que nem reparavam no seu rosto, que, diga-se de passagem, era lindo. Mas não para ela.
Noite após noite, dia após dia, na mesma rotina repugnante. E em uma manha não acordou. O canivete na mão direita, no lugar do cigarro, as pernas abertas, o rosto mutilado, deitada no berço de ouro, o cadáver. E ainda viva na memória dos embriagados, agora já não tinha beleza nenhuma, apenas um corpo perfeito coberto de sangue e um rosto lindo, na lembrança de quem a viu, agora destruído. Não era um suicídio comum, apenas havia matado. A preguiça, a luxúria e a vaidade.
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