O vestido preto, aquele que você sempre tem no armário e usa quando não sabe o que vestir, era o que ela usava naquela noite.
Um casaco preto em cima e uma bota, também preta.
Ele não esperava a visita. Era sexta feira de noite, ela poderia estar fazendo qualquer outra coisa. As visitas eram cada vez menos constantes e ele sentia falta.
Já eram quase dez horas e a noite estava gelada. Ela bate na porta, escuta os passos e a porta se abre. Ela entra, sem falar nada e se dirige ao quarto.
Lá está, como esteve há algum tempo seu pai, deitado na cama, vendo televisão. Ela entra e se senta, não fala nada, afinal, eles não costumavam se falar muito. Aquele silencio vinha de anos e doía, era ensurdecedor.
A filha abraça o pai, deixa cair uma lágrima, arrependimento talvez. Sente as batidas do coraçao dele cada vez mais fracas e só implora por mais um minuto, mas parecia muito. As batidas param, os olhos se fecham, ela fica sentada na cama por algum tempo, depois levanta e sai pela porta da frente, sem falar nada, pois não havia necessidade, anos e anos se passaram em alguns poucos segundos e ela pelo menos havia dado um ultimo adeus, um ultimo beijo de boa noite.
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