quarta-feira, 9 de junho de 2010

Por letícia greneer(sono eterno):

" Quando os sinos da igreja deram a primeira badalada ouvi os gritos distantes, uma voz desesperada e aguda, um grito ensurdecedor. Era a minha voz. Estava gritando por piedade, por mais um segundo de vida. Minhas mãos estavam geladas e seguravam os pulsos dele, que com força, arrancava seus braços de meu alcance, com suas mãos grandes me batia, me mandava ficar quieta. Pegou um punhal e com ódio matou-me. Neste momento eu acordei, assustada, suando. Era apenas mais um sonho, mas eu sabia que podia acontecer. Já havia escutado ameaças e mais que isso, promessas vindas dele. Decidi então que o mataria, antes que ele me matasse.
Irônico matar alguem que eu tanto amo, mas eu sabia que era a única escolha.
Mil planos me vieram a cabeça naquele exato momento, mil maneiras de acabar logo com isso. Lágrimas escorreram dos meus olhos e mesmo que eu tentasse, elas nao paravam. Precisava seguir em frente. Já tinha decidido tudo e nao valia a pena continuar ouvindo ameaças que podiam e com certeza iriam se concretizar.
Fui a casa dele, quando ele chegou eu estava deitada na cama, como era de costume. Ele se deitou ao meu lado, me beijou. Que beijo doce, que abraço confortante...
Ele estava me deixando louca, como sempre fez, mas se eu não fizesse o que tinha que fazer, ele se livraria de mim da forma mais cruel e cometeria a mesma injustiça com tantas outras.
Peguei o punhal e encostei-o em seu pescoço. Ele, quase sem entender, perguntou o motivo de tudo isso. Eu respondi que faria com ele, antes que ele fizesse comigo. Ele disse que nunca faria tal coisa, já que me amava. Chorando, da mesma forma que eu choraria, implorou que eu nao o fizesse. Falou palavras que entravam em meus ouvidos de uma forma tão fútil mas tão simplória e real. Ele realmente gostava de mim, mas gostava apenas quando isso lhe era útil e agora, sua vida estava em minhas mãos.
Fiz o que tinha que fazer.
Antes de sua morte, o vi agonizar na cama, o sangue jorrava e sujava o lençol. Sangue este que se misturava com suas lágrimas, que escorriam pelo rosto e pingavam uma a uma em cima do sangue. Minhas lágrimas também se misturavam com as dele e a cada lágrima que caia no lençol, me doía. Eu sentia como se a cada lagrima eu recebesse um corte. Meu coração ficou apertado e pude ouvir suas últimas palavras:
-Vadia, não chore por mim.
Sequei minhas lágrimas. Ele tinha razão, nao merecia que eu chorasse por ele. Cafajeste, falso. Ver ele morrer foi como cortar todos os laços que eu tinha com uma pessoa especial, mas foi necessário. Tirei ele de minha vida, dando-lhe um presente: O sono. Sono profundo e eterno.
Ele nao voltaria, nunca mais eu ouviria sua voz. Tirei-o de minha vida e agora, estava eu, deitada na cama, ao lado dele. Seu sangue manchava minha roupa e eu nao ligava. Dei nele um beijo, o ultimo beijo e fui embora. Fui com a melhor sensação que poderia ter. A sensação de ter feito a coisa certa."

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